Memória E Identidade Do Povo Xetá

Descrição

Este livro, que surge como genuína obra acadêmica de pesquisa e documentação, fruto do esforço e da dedicação de uma década de sua autora, é antes de mais nada um veículo privilegiado para a transmissão da palavra do povo Xetá a todos os outros povos do Brasil e do mundo.
O seu fio condutor são as recordações da memória coletiva do povo Xetá envolvendo a sua história e as suas representações do mundo. Trata-se, antes de mais nada, de um estudo encarnado na palavra proferida pelos próprios sobreviventes desse povo, com especial ênfase à voz da criança Xetá, da qual a autora é uma privilegiada ouvinte. O estudo que o livro apresenta pretende compreender as representações que os sujeitos têm de si mesmos, no quadro social que lhes dá guarida, e se funda na recordação entretecida individual, histórica e coletivamente.
Na perspectiva acadêmica da obra, a análise é conduzida procurando decifrar os códigos escondidos na cultura da infância Xetá – uma cultura não ocidental, mas que carrega em si aquilo que a autora interpreta por meio do conceito de transfiguração epistemológica. A criança Xetá, nos dias de hoje, quando inventa histórias como o fazem todas as crianças, entrelaça histórias de cultura popular ocidental com as histórias do quotidiano e da mitologia Xetá. Pode parecer surpreendente, mas é o que se pode esperar de um povo disperso, que vive no espaço urbano, mantendo a memória de um território perdido e a expectativa de um território futuro. Essa expectativa a autora denomina de memória do futuro, fazendo menção implícita ao conceito de um tríplice tempo agostiniano, que existe como presença de um passado (na memória), de um futuro (na expectativa) e na percepção concreta de um presente que se eterniza.
Para concluir, é meu dever alertar o leitor de que esta não é somente uma obra acadêmica. Ela o é, de fato, com todas as credenciais de rigor e metodologia necessárias para que assim seja considerada, mas é também o resultado de um envolvimento que representa um olhar externo, é verdade, mas um olhar amoroso de quem foi adotada pelo povo Xetá. Ao longo da última década, a autora se tornou, desse povo disperso, a sua porta-voz privilegiada tanto no ambiente acadêmico, onde nasceu esta obra de referência para as futuras gerações, quanto para a sociedade brasileira e para o mundo.